Sem saber que era impossível, foi lá e fez.

05/02/2012

África, berço da civilização, genocídios, miséria e exploração. Tiros em Ruanda x Olhar econômico europeu

Estes dias assisti Tiros em Ruanda (2005).  Bom filme quanto ao conteúdo e formato cinematográfico híbrido que deixou mais real, quase jornalísticas as tomadas.
Mas sem duvida ao menos para min, dá aquele nó no estômago, o mesmo nó que a gente sente quando vê as fotos de crianças desnutridas de qualquer região.
 Opa  não podemos nos excluir dessa. Temos que lembrar que até há algum tempo atrás nosso nordeste no interior tinha crianças bem parecidas, que brincavam na estrada com ossos, seca, exploração pelos latifundiários etc.  Agora um pouco melhor.
Mas a África além de tudo isso, sofre estas mazelas de forma continental e secular  amplificando por fim este sofrimento conhecido de alguns brasileiros .  De alguns é claro, pois uns parecem não tomar conhecimento ou ainda pior, querem ignorar.

Hotel Ruanda eu não vi.  Por questões circunstanciais. Mas a questão aqui não é o cinema e sim a desgraça mesmo.  O mais impressionante é conhecer sua riqueza e sair mais boquiaberto e se perguntar por que???   Oras porque , porqu esta riqueza além de mal organizada, mal gerida, é ainda concentrada nas mãos de minorias.

 Eu tive a experiência em Luanda, onde a paisagem humana é parecida  aos países subsaarianos vizinhos. Mas como se tem o Rio Kwanza, é possível ainda comer peixe.  Luanda na verdade sofreu mais com o êxodo rural do que com a guerra civil, já que a guerra civil com Jonas Savimbi se deu no interior, até que ele foi morto na fronteira do Congo 30 anos após.  Luanda inchou de tanta gente, ao  menos 8 milhões de pessoas invadiram a cidade e com isso sofreu deterioração de tudo que é tipo.  Mas da guerra foi muito menos.
 Mães com crianças nas costas, caminhando na rua com bacias de bananas e peixes na cabeça, as margens das ruas lotadas de construção com telhado de zinco precárias daquelas onde mal se pode ficar em pé, a folha de Zinco presa por uma pedra, e sem luz, sem qualquer tipo de esgoto , água ou outro tipo de saneamento. Lixo amontado pelas ruas, verdadeiras montanhas.  Paralelamente a isso condomínios se erguendo com luxuosas mansões na Luanda atual.

 Mas ainda assim , já se vê um pouco dos frutos do petróleo, isso é para os que estão empregados se vê mais rápido ainda, já que além de salário tem assistência a saúde (como no hospital da petrolífera onde trabalhei) e  tb acesso a algumas medicações.  Grande parte destes trabalhadores da petrolífera ficam na plataforma Girassol no Golfo de Cabinda > Cabinda província de Angola, detém o petróleo e nada mais nada menos tem uma política separatista do país. Espertinhos né? Faz jus a expressão “ farinha pouca meu pirão primeiro”.  A exploração dividida entre Total  e Chevron. O de alto mar pela nossa...Petrobras!! (hj 2016 releio isso com dó, do que fizeram da nossa estatal)

 O governo angolano pactuado com os chineses iniciava a sinalização de transito e outras obras de reconstrução do país.  Uma discretíssima melhoria da saúde local , no convênio com universidades brasileiras (como a USP que nos enviou e Unicamp Tb). Entretanto isso ainda é imperceptível, não tem o impacto necessário. Mas é um começo. Pela extensão do país e  a quantidade de riqueza (leia se petróleo e diamante em quantidade), daria para estar muito melhor.  Afinal são riquezas vendidas em termos de mercado futuro, isso é ganho certinho.

Com tudo isso, sem duvida acho que a África tem condições de se recuperar, mas a falta de cérebros e tecnologia  os leva a cair nas mãos de grandes industrias, executando as vezes parcerias não muito éticas para seus cidadãos.  Algumas vezes promovendo até mesmo o êxodo de uma reagião para outra.  E aí, o pau come, pois as etnias saem no cacete mesmo como se vê tristemente no filme.  Claro no filme mostra a briga étnica (hutu x tutsies) orquestrada pelo poder político.  Dirigida mesmo.  E com a indiferença absurda da ONU. Apesar de heterogênea, existem possibilidades reais para a Africa como um todo, mas não vejo vontade do mundo rico para isso, exceto como mercado consumidor, não vejo mesmo, pois é ainda um mercado a ser explorado produtivamente e assim vamos....

Olhando o Le Monde Diplomatique, uma informação que eu respeito, apesar de quase sempre ter ainda o  olhar do colonizador, ou de forma mais suave agora dizendo do “ investidor”,, existem bons cadernos que tratam do tema.  Diversos artigos mostrando o quanto a Àfrica como continente é atraente para investir.  Tem um índice de  crescimento de 7 a 8% mesmo com a crise.  Comparando aos países emergentes é o único que continua crescendo, inclusive sua população em termos demográficos e com uma grande massa de cidadãos em idade de trabalho. Principalmente no futuro, até porque....Engravidar na África confere status. Casar com barriga de 6  meses é chique, eu mesma fui a um destes casamentos, de 3 dias, milhardários. Se casar  com um branco, então é gloria total. E foi o caso, durante 3 dias tomamos Moet Chandon e comemos lagosta , aff.....Anéis de 87 mil dólares de presente, e viagens de deixar qualquer cidadão comum com duvidas sobre a veracidade do que presencia.
Voltando ao Le monde :

Possui 10% das reservas mundiais de petróleo, 40% das de ouro e um grande tanto de outros metais.  Ainda tem nada mais nada menos que  60% de áreas não cultiváveis do planeta.  Já pensou ???  Brasil dará adeus ao titulo de celeiro do mundo se isso vier a ser explorado.
Poder de compra aumentando pouco a pouco, com classe média sendo alargada e  tendo aumentado 60% do poder de compra.
Mas....nem tudo são  flores, vai lá ver a corrupção, para mim a mais absurda e olha que estou acostumada. Além claro da democradura, que inclusive me fez na época a  desistir do blog que iniciei quando estava lá como funcionária da maior empresa do país. Não dava para exprimir muita coisa, fora que eu passava por um periodo de impacto com o mundo que eu acabava de conhecer, levando a uma grande introspecção e elocubração silenciosa.
 E vai ver também a má gerencia dos setores.   Diz o jornal, que se ela como continente quer sair do ciclo infernal de pobreza vai ter que acompanhar o restante do mundo e evoluir neste sentido.  Será?  Sei não....

Neste acompanhamento da grande onda de países como BR, China, Índia,  Turquia , ao meu ver, continua um risco muito grande, o não investimento em recursos humanos.  Se isso não acontece, ainda mais lá onde o déficit de preparo é facilmente observado, novamente amargará um ciclo tão infernal quanto o de pobreza.  Haverá uma servidão alimentada. Os ricos cada vez mais ricos e os demais continuando na escuridão completa.   Se aqui já temos falta de mão de obra qualificada em certos setores, apesar de podermos observar uma migração dos trabalhadores para serviços mais qualificados e abandonando por ex os domésticos,  alguns setores tem um hiato que ainda obriga a trazer de fora. Imagina lá!!!
Veremos, sorte para África.
Sorte para nós!